terça-feira, 28 de maio de 2013

Pressupostos

É comum, por parte do público da ficção científica, da fantasia e do terror e etc., o uso do termo “de gênero”. Ainda que a expressão careça etimologicamente de coerência, serve para marcar terreno quando é negado espaço, quando algo é chamado de entretenimento frívolo com base em uma concepção insustentável e empoeirada de arte. Mas fala-se em “literatura de gênero” e “cinema de gênero”, mas não em “quadrinho de gênero”, “série de gênero” ou, menos ainda, “jogo eletrônico de gênero”. Qual o motivo?

Nos quadrinhos, nos games e nas séries televisivas a produção de ficção científica, de fantasia, de horror, de histórias de detetive e policialescas é quantitativamente expressiva. Dessa forma, o “de gênero” se faz algo desnecessário, redundante. É até mesmo difícil encontrar exemplos que não possam ser prontamente enquadrados em algum gênero, conforme compreendido por uma comunidade de fãs.

Mas os exemplos existem, e não devem ser desconsiderados. Nos quadrinhos, por exemplo, às vezes se esquece de que há vida inteligente além dos super-heróis da DC e da Marvel. Conhecer a produção que escapa à pronta categorização genérica não promove, contudo, o uso do nosso “de gênero”. Ou seja, o critério quantitativo não esclarece por completo a circunstância.

No cinema e na literatura ainda predomina uma conformação estética beletrista, comprometida com os padrões instituídos de bom gosto. Que o diga quem produz ou consome ficção de gênero e já teve que enfrentar o conservadorismo vigente em boa parte das discussões acadêmicas sobre literatura ou o pedantismo que contamina os cineclubes mundo afora.

Ignorados ou refutados pela “intelligentsia” (com ênfase nas aspas), os quadrinhos, os games e a produção televisiva em geral não precisam demarcar uma diferença, uma cisão. Justamente por serem ignorados, não se faz necessário marcar terreno; não é preciso dizer “isto é de gênero, não serve para vocês beletristas”.

Não se pode negar que há exceções, como a contemporânea abertura da academia aos estudos da produção de gênero, dos quadrinhos e, numa menor escala, dos games. Trata-se de uma abertura ainda muito tímida, mas que certamente tende a crescer – embora não com a velocidade que esperaríamos.

Aqui no Ficção de Gênero, vou traçar notas sobre essa produção que tem seu espaço negado pelos bastiões do bom gosto. Como esta, serão notas que não têm o interesse de esgotar o assunto ou de assumir objetivos totalizantes. Notas, apontamentos apenas.

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